quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Destralhar com a Ana

Imagem Pinterest

A Ana participou num "Workshop Destralhar a Casa" que apresentei no Porto. Tinha visto a minha entrevista no Porto Canal e sentiu que tinha chegado o "tal momento". Desde o workshop tenho recebido o feedback da Ana sobre os progressos do destralhar a casa. Esta semana recebi um feedback diferente, a mudança interior da Ana. Um post que a Ana escreveu sobre destralhar o tempo. Deixo aqui um extrato do texto:

"É preciso “destralhar” o tempo. Sim, exatamente, “destralhar” o tempo. E isto pode ser feito de diversas formas, desde o simples pormenor de trocar o sítio dos pratos para os colocar junto da máquina de lavar loiça, para que arrumar a loiça demore menos tempo, até à organização geral e pormenorizada da casa, para não perder tempo à procura… de uma caneta. Arrumar o exterior para alcançarmos o interior. É necessário fazermos uma apreciação detalhada daquilo que realmente precisamos. Será que precisamos de dois cortadores de pizza, de 6 pares de calças pretas, dos naperons que nem sequer usamos, mas que foi a Avó que deu?

Dito assim, parece confuso. O que tem a ver uma casa organizada com o tempo? Tudo. Aliás, creio que é até uma excelente metáfora para a organização da nossa mente. Recentemente aprendi que “destralhar” uma casa é, sobretudo, um processo emocional. Não é a qualquer altura que simplesmente decidimos desfazer-nos dos “monos”, porque encerram em si memórias e emoções, boas e más. Cada objeto contém uma memória, uma época. Por isso é que organizar uma casa é um processo tão complicado e tão emocional; é necessário avaliar se cada objeto é necessário ou se nos faz feliz. São essas as duas regras básicas para “destralhar” uma casa – e só a partir daí é que se pode decidir se vai para o lixo ou se fica.

Paralelamente, não é a qualquer altura que conseguimos aliviar a nossa mente das mágoas do passado, das saudades de momentos e de pessoas, da ansiedade do que ainda não aconteceu, dos medos e dos apegos – os tais apegos que, segundo os budistas, não nos deixam seguir o verdadeiro caminho da felicidade. E todas estas emoções também nos consomem tempo. Tempo que poderíamos capitalizar para nós.

Seria fácil descartarmos as nossas emoções, mágoas e angústias, mas infelizmente não trazemos um interrutor na nuca para o colocarmos em off sempre que a tristeza teima em aparecer e as mágoas teimam em queimar-nos o peito. Mas se conseguirmos chegar àquele ponto em que o nosso exterior e o nosso interior estão com as prateleiras devidamente arrumadas e etiquetadas, com tudo no sítio certo, onde com apenas o olhar encontramos o que procuramos, porque as tralhas foram à vida, perderemos então menos tempo, quer nas tarefas domésticas, quer a dar vida nos monstros azuis que nos povoam o pensamento e nos devoram a alma. "

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