quarta-feira, 5 de agosto de 2015

"Destralha a Vida " por Luísa Castel-Branco


                            

Este texto foi partilhado no dia 23 julho, no facebook de Luisa Castel-Branco . Uma história linda sobre destralhar uma vida. Uma frase perfeita: "Porque afinal de contas está tudo dentro de mim. Do meu coração."

"À história das minhas vidas
Esta casa de onde parto agora é a 11 em que vivi desde o dia em que me casei há quase 38 anos.
Todas alugadas que educar sozinha três filhos não sobra dinheiro para devaneios.
As casas são para mim o cenário do momento que vivo.
E gosto de casas antigas porque acredito que as histórias de quem ali viveu antes perduram nas paredes.
Sou também apaixonada por objectos também eles com histórias. Desde os meus treze anos que quando alguém ia mandar algo para o lixo eu invariavelmente pedia para ficar com o objecto , livro, restos de tecidos, postais, carrinhos de linha e tudo o que possam imaginar.
Tornei -me uma acumuladora de pequenos nadas que para mim valiam muito.
A vida foi andando e tenho tido dificuldade em aceitar as mudanças. Os meus filhos saíram de casa , cada um com o seu caminho e eu continuei não só a ter quartos para eles, como para os netos.
É uma casa cheia como um melão não contando com as garagens dos meus sobrinhos e outros amigos.
Li um dia que um caixote que não se abre ao fim de seis meses não é necessário e deve ir para o lixo,
Agora esta mudança vai ser diferente e desta casa para onde vou partirei quando Deus quiser. Ou melhor essa é a esperança dos meus filhos e da minha cara metade.
A logística de desmontar sozinha uma casa com quase 200 metros e escolher o que se leva para outra de 90 não é simples.
Mas além disso foi necessário desfazer os ditos caixotes espalhados .
E depois de meses de introspecção e muito pouca paciência compreendi que tinha chegado o momento de me despedir da minha vida que foi em tempos.
Vi cada objecto, móvel e sei lá mais o quê e todos me contavam uma história.
Entre o que vendi em leilão e o que agora vendo, fora a camioneta que vem buscar um montão de coisas para oferecer , vou entrar pela primeira vez numa casa, virgem de fantasmas, de memórias, de...
Porque afinal de contas está tudo dentro de mim. Do meu coração. Das memórias das lágrimas e dos risos que ficaram presos na minha alma.
Uma nova aventura aos 61.
Que Deus me dê tempo para a viver."

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